QUANDO O PEQUENO FEZ DOIS ANOS PASSOU A SER ROBUSTO. QUANDO FEZ QUATRO FOI PROMOVIDO PELO DIÁRIO POPULAR A INTELIGENTE E MUI PROMISSOR MENINO...



Quando o pequeno fez dois anos passou a ser robusto. Quando fez quatro foi promovido pelo Diário Popular a inteligente e mui promissor menino.

Nesse dia Dona Francisca achou que era chegado o momento de ensinar ao Cícero O Estudante Alsaciano. Seis estrofes mais ou menos foram decoradas. E a madrinha Dona Isolina Vaz Costa (cuja especialidade era doce de ovos) foi de parecer que quanto à dicção ainda não está visto mas quanto à expressão Cícero lembrava o Chabi Pinheiro. No entanto advertiu que do meio para o fim é que era mais difícil. Principalmente quando o heróico rapazinho desabotoava virilmente a blusa preta e gritava batendo no peito: Aqui dentro, aqui é que está a França!

Cícero na véspera do Natal de seus cinco anos às sete horas da noite estava entretido em puxar o rabo do Biscoito quando Dona Francisca veio buscá-lo para dormir. Cícero esperneou, berrou, fugiu e meteu-se embaixo da mesa da sala de jantar. Foi pescado pelas orelhas. Carregado até a cama.

Dona Francisca tirou a roupa dele, enfiou-o no macacão e disse:

- Vá dizer boa-noite para papai.

Beijada a mão do major (que decifrava umas charadas do Malho) voltou. E Dona Francisca então falou assim:

- Olhe aqui, meu filhinho. Tire o dedo do nariz. Olhe aqui. Você agora vai pôr seu sapatinho atrás da porta (compreendeu?) para São Nicolau esta noite deixar nele um brinquedo para o meu benzinho.

Cícero obedeceu correndo.

- Bom. Agora reze com a mamãe para Nossa Senhora proteger sempre você.

Rezou sem discutir.

- Assim sim que é bonito. Não meta o dedo no nariz que é feio. E durma bem direitinho para São Nicolau poder deixar um brinquedo bem bonito.

Cícero no escuro deu de pensar no presente de São Nicolau. E resolveu indicar ao santo o brinquedo que queria por causa das dúvidas. Não confiava no gosto do santo não. Na sua cabeça os soldados vistos de manhã marchavam com a banda na frente. E disse baixinho:

- São Nicolau: deixe uma espingardinha.

Virou do lado direito e dormiu de boca aberta. Às sete da manhã encontrou um brinquedo de armar atrás da porta. Ficou danado. Deu um pontapé no brinquedo. E chorou na cama apertando o dedão do pé.

Na véspera do Natal de seus seis anos às sete e meia da noite estava Cícero matando moscas na copa quando o major veio chamá-lo para dormir. Ranzinzou. Choramingou. Quis escapar. Foi seguro por um braço e posto a muque na cama. Dona Francisca já esperava afofando o travesseiro.

- Fique quietinho, meu filho, que é para São Nicolau trazer um brinquedo para você.

Não quis ouvir mais nada. Arrancou os sapatos e foi mais que depressa deixar atrás da porta. Mas depois ficou algum tanto macambúzio. Coçando a barriga e tal.

- Que é que você tem? Mostre a língua.

Com má vontade mas mostrou. Dona Francisca verificou o seu aspeto saudável.

- Vá. Diga para sua mamãe que é que você tem.

- Como o da outra vez eu não quero mesmo.

- Não quer o quê?

- O brinquedo...