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JOGOU A FANTASIA NO CHÃO E FOI PARA OUTRA SALA SOLUÇANDO... |
Jogou a fantasia no chão e foi para outra sala soluçando. Totónio gozou esmurrando o teclado. O contínuo disse: - Macaco pelo primeiro. Abaixou a cabeça vencido. Sim, senhor. Sim, senhor. O papel para informar ficou para informar. Pediu licença ao diretor. E saiu com uma ruga funda na testa. As botinas rangiam. Ele parava, dobrava o peito delas erguendo-se na ponta dos pés, continuava. Chiavam. Não há cousa que incomode mais. Meteu os pés de propósito na poça barrenta. Duas fantasias de odalisca. Duas caixas de bisnaga. Contribuição para o corso. Botinas de cinqüenta mil-réis. Para rangerem assim. Mais isto e mais aquilo e o resto. O resto é que é o pior. Facada doída do Aristides. Outra mais razoável do Carlinhos. Serpentina e fantasia para as crianças. Também tinham direito. Nem carro de boi chia tanto. Puxa. E outras cousas. E outras cousas que iriam aparecendo. Entrou no Monte de Socorro Federal. Auxiliado pela Elvira o Totónio tanta malcriação fez, abrindo a boca, pulando, batendo o pé, que convenceu Dona Sinhara. - Crispiniano, não há outro remédio mesmo: vamos dar uma volta com as crianças. - Nem que me paguem! O Totónio fantasiado de caçador de esmeraldas (sugestão nacionalista do Doutor Andrade que se formara em Coimbra) e a Elvira de rosa-chá ameaçaram pôr a casa abaixo. Desataram num choro sentido quebrando a resistência comodista (pijama de linho gostoso) de Crispiniano. - Está bem. Não é preciso chorar mais. Vamos embora. Mas só até o Largo do Paraíso. Na Rua Vergueiro Elvira de ventarola japonesa na mão quis ir para os braços do pai. - Faça a vontade da menina, Crispiniano. Domingo carnavalesco. Serpentinas nos fios da Light. Negras de confete na carapinha bisnagando carpinteiros portugueses no olho. O único alegre era o gordo vestido de mulher. Pernas dependuradas da capota dos automóveis de escapamento aberto. Italianinhas de braço dado com a irmã casada atrás. O sorriso agradecido das meninas feias bisnagadas. Fileira de bondes vazios. Isso é que é alegria? Carnaval paulista. Crispiniano amaldiçoava tudo. Uma esguichada de lança-perfume bem dentro do ouvido direito deixou o Totónio desesperado. - Vamos voltar, Sinhara? - Não. Deixe as crianças se divertirem mais um bocadinho só. Elvira quis ir para o chão. Foi. Grupos parados diziam besteiras. Crispiniano com o tranco do toureiro quase caiu de quatro. E a bisnaga do Totónio estourou no seu bolso. Crispiniano ficou fulo. Dona Sinhara gaguejou revoltada. Totónio abriu a boca. Elvira sumiu. Procura-que-procura. Procura-que-procura. - Tem uma menina chorando ali adiante. Sob o chorão a chorona. - O negrinho tirou a minha ventarola. Voltaram para casa chispando. Terça-feira entre oito e três quartos e nove horas da noite as odaliscas chegaram do corso em companhia do sultão Mário Zanetti. Crispiniano com um arzinho triunfante dirigiu-lhes a palavra: - Ora até que enfim! Acabou-se, não é assim? Agora estão satisfeitas. E temos sossego até o ano que vem. |
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