|
Agora não é nada mau descansar aqui à sombra do muro.
O automóvel passou com poeira atrás. Diabo. Pegou num pauzinho e
desenhou um quadrado no chão vermelho. Depois escreveu dentro do
quadrado em diagonal: SAUDADE - 1927. Desmanchou tudo com
o pé. Traçou um círculo. Dentro do círculo outro menor. Mais
outro. Outro. Ainda outro bem pequetitito. Ainda outro: um
pontinho só. Não achou mais jeito. Ficou pensando, pensando,
pensando. Com a ponta do cavaco furando o pontinho. Deu um risco
nervoso cortando os círculos e escreveu fora deles sem levantar a
ponta: FIM. Só que escreveu com n. E afundou numa tristeza sem
conta.
Cinco minutos banzados.
E abriu o jornal. Pulou de coluna em coluna. Até os olhos da Pola
Negri nos anúncios de cinema. Boniteza de olhos. Com o fura-bolos
rasgou a boca, rasgou a testa. Ficaram só os olhos. Deu um soco:
não ficou nada. Jogou o jornal. Ergueu-o novamente. Abriu na
quarta página. E leu logo de cara: ULISSES SERAPIÃO
RODRIGUES: No dia 13 do corrente desapareceu do Sítio
Capivara, município de Sorocaba, um rapaz de nome Ulisses
Serapião Rodrigues tomando rumo ignorado. Tem 22 anos, é
baixo, moreno carregado e magro. Pode ser reconhecido facilmente por
uma cicatriz que tem no queixo em forma de estrela. Na ocasião de seu
desaparecimento estava descalço, sem colarinho e vestia um terno de
brim azul-pavão. Quem souber do seu paradeiro tenha a bondade de
escrever para a Caixa Postal 170 naquela cidade que será bem
gratificado.
|
|