A BOA VISTA



Sonha, poeta, sonha! Aqui sentado
No tosco assento da janela antiga,
Apóias sobre a mão a face pálida,
Sorrindo — dos amores à cantiga.
Álvares de Azevedo

Era uma tarde triste, mas límpida e suave...
Eu — pálido poeta — seguia triste e grave
A estrada, que conduz ao campo solitário,
Como um filho, que volta ao paternal sacrário,
E ao longe abandonando o múrmur da cidade
— Som vago, que gagueja em meio à imensidade —,
No drama do crepúsculo eu escutava atento
A surdina da tarde ao sol, que morre lento.

A poeira da estrada meu passo levantava,
Porém minh’alma ardente no céu azul marchava
E os astros sacudia no vôo violento
Poeira, que dormia no chão do firmamento.