A LUÍS



No dia de seu natalício
A imaginação, com o vôo ousado, aspira
a princípio à eternidade... Depois um
pequeno espaço basta em breve para os destroços
de nossas esperanças iludidas!...
Goethe

Como um perfume de longínquas plagas
Traz o vento da pátria ao peregrino,
Ó meu amigo! que saudade infinda
Tu me trazes dos tempos de menino!

É o ledo enxame de sutis abelhas
Que vem lembrar à flor o mel d’aurora...
Acres perfumes de uma idade ardente
Quando o lábio sorri... mas nunca chora!

Que tempos idos! que esperanças louras!
Que cismas de poesia e de futuro!
Nas páginas do triste Lamartine
Quanto sonho de amor pousava puro!...

E tu falavas de um amor celeste,
De um anjo, que depois se fez esposa...
— Moça, que troca os risos de criança
Pelo meigo cismar de mãe formosa.

Oh! meu amigo! neste doce instante
O vento do passado em mim suspira,
E minh’alma estremece de alegria,
Como ao beijo da noite geme a lira.

Tu paraste na tenda, ó peregrino!
Eu vou seguindo do deserto a trilha;
Pois bem... que a lira do poeta errante
Seja a bênção do lar e da família.
Rio, fevereiro de 1868