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Para rematar a obra, entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda
a solidariedade humana. Com efeito, o amor do próximo era um
obstáculo grave à nova instituição. Ele mostrou que essa regra era
uma simples invenção de parasitas e negociantes insolváveis; não se
devia dar ao próximo senão indiferença; em alguns casos, ódio ou
desprezo. Chegou mesmo à demonstração de que a noção de próximo
era errada, e citava esta frase de um padre de Nápoles, aquele fino
e letrado Galiani, que escrevia a uma das marquesas do antigo
regímen: "Leve a breca o próximo! Não há próximo!" A única
hipótese em que ele permitia amar ao próximo era quando se tratasse de
amar as damas alheias, porque essa espécie de amor tinha a
particularidade de não ser outra coisa mais do que o amor do indivíduo
a si mesmo. E como alguns discípulos achassem que uma tal
explicação, por metafísica, escapava à compreensão das turbas, o
Diabo recorreu a um apólogo: - Cem pessoas tomam ações de um
banco, para as operações comuns; mas cada acionista não cuida
realmente senão nos seus dividendos: é o que acontece aos
adúlteros. Este apólogo foi incluído no livro da sabedoria.
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