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Enganava-se o digno magistrado; o médico arranjou tudo. Uma vez
empossado da licença começou logo a construir a casa. Era na Rua
Nova, a mais bela rua de Itaguaí naquele tempo, tinha cinqüenta
janelas por lado, um pátio no centro, e numerosos cubículos para os
hóspedes. Como fosse grande arabista, achou no Corão que Maomé
declara veneráveis os doidos, pela consideração de que Alá lhes
tira o juízo para que não pequem. A idéia pareceu-lhe bonita e
profunda, e ele a fez gravar no frontispício da casa; mas, como
tinha medo ao vigário, e por tabela ao bispo, atribuiu o pensamento a
Benedito VIII, merecendo com essa fraude aliás pia, que o Padre
Lopes lhe contasse, ao almoço, a vida daquele pontífice eminente.
A Casa Verde foi o nome dado ao asilo, por alusão à cor das
janelas, que pela primeira vez apareciam verdes em Itaguaí.
Inaugurou-se com imensa pompa; de todas as vilas e povoações
próximas, e até remotas, e da própria cidade do Rio de Janeiro,
correu gente para assistir às cerimônias, que duraram sete dias.
Muitos dementes já estavam recolhidos; e os parentes tiveram ocasião
de ver o carinho paternal e a caridade cristã com que eles iam ser
tratados. D. Evarista, contentíssima com a glória do marido,
vestira-se luxuosamente, cobriu-se de jóias, flores e sedas. Ela
foi uma verdadeira rainha naqueles dias memoráveis; ninguém deixou de
ir visitá-la duas e três vezes, apesar dos costumes caseiros e
recatados do século, e não só a cortejavam como a louvavam;
porquanto, - e este fato é um documento altamente honroso para a
sociedade do tempo, - porquanto viam nela a feliz esposa de um alto
espírito, de um varão ilustre, e, se lhe tinham inveja, era a
santa e nobre inveja dos admiradores.
Ao cabo de sete dias expiraram as festas públicas; Itaguaí, tinha
finalmente uma casa de orates.
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