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Três meses depois efetuava-se a jornada. D. Evarista, a tia, a
mulher do boticário, um sobrinho deste, um padre que o alienista
conhecera em Lisboa, e que de aventura achava-se em Itaguaí cinco
ou seis pajens, quatro mucamas, tal foi a comitiva que a população
viu dali sair em certa manhã do mês de maio. As despedidas foram
tristes para todos, menos para o alienista. Conquanto as lágrimas de
D. Evarista fossem abundantes e sinceras, não chegaram a
abalá-lo. Homem de ciência, e só de ciência, nada o consternava
fora da ciência; e se alguma coisa o preocupava naquela ocasião, se
ele deixava correr pela multidão um olhar inquieto e policial, não
era outra coisa mais do que a idéia de que algum demente podia
achar-se ali misturado com a gente de juízo.
- Adeus! soluçaram enfim as damas e o boticário.
E partiu a comitiva. Crispim Soares, ao tornar a casa, trazia os
olhos entre as duas orelhas da besta ruana em que vinha montado;
Simão Bacamarte alongava os seus pelo horizonte adiante, deixando ao
cavalo a responsabilidade do regresso. Imagem vivaz do gênio e do
vulgo! Um fita o presente, com todas as suas lágrimas e saudades,
outro devassa o futuro com todas as suas auroras.
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