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Isto foi aos doze anos. Aos dezesseis metrificou a sua primeira inspiração ... |
Isto foi aos doze anos. Aos dezesseis metrificou a sua primeira inspiração. Eram umas quadras singelas tomando por assunto uma cena da natureza: duas rolas que se beijavam à margem de um riacho que atravessava o fundo da chácara em que morava. À noite leu a sua obra à família; mas ninguém lha entendeu, à exceção de um tio padre que sabia entremear as orações do breviário com os cantos de Virgilio e Petrarca. O jovem poeta, descontente com o mau efeito da obra, quis rasga-la; mas o tio padre interveio a tempo e convidou o rapaz, não só a conservar as suas primeiras estrofes, como ainda a metrificar outras, quando lhe fosse de vez a inspiração. Teófilo chamava-se o nosso poeta. Era filho de uma das províncias do sul. O pai, major reformado, vivia da pensão que o Estado lhe dava e de alguns haveres que lhe deixara um parente. Era quanto bastava para sustentar modicamente a família. Esta era numerosa; constava da mulher, um filho, das duas filhas, um irmão cego, dois sobrinhos órfãos e uma agregada. O irmão padre era pobre e mal concorria com o estritamente necessário para a sua subsistência. A educação que Teófilo recebeu foi proporcionada aos meios de seus pais. Aprendeu primeiras letras, rudimentos de latim e de francês. O latim e o francês aprendeu-os do tio padre. Findo isto, o pai entrou a cogitar em que havia de empregar o rapaz e não achou. Então como que se arrependeu do que lhe havia feito aprender. O talento natural de Teófilo, desenvolvido pelos primeiros estudos, impunha-lhe a obrigação de destiná-lo a alguma carreira em que pudesse ser aproveitado, estando na esfera que lhe competia. O bom do velho nada encontrava neste sentido. No caso de morte do pai, quem sustentaria a família? Esta era a questão capital no espírito do pai de Teófilo. Entretanto, Teófilo, que tomara gosto às letras, ia aproveitando as lições do padre e aumentava o cabedal da instrução. Desenvolveu-se no latim e no francês; estudou o inglês e o italiano. Quis conhecer a história e disse-o ao tio. - Aprende primeiro geografia, respondeu-lhe o padre. - É preciso, não? - Sem dúvida. Como hás de tu saber do que houve na casa, sem conhecer antes das disposições da casa? - É verdade. E o rapaz atirou-se ao estudo da geografia, e depois ao de história, e depois ao de filosofia. |
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