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Uma idéia traz outra; o boticário imaginou que, uma vez preso o
alienista, viriam também buscá-lo a ele, na qualidade de
cúmplice. Esta idéia foi o melhor dos vesicatórios. Crispim
Soares ergueu-se, disse que estava bom, que ia sair; e apesar de
todos os esforços e protestos da consorte vestiu-se e saiu. Os
velhos cronistas são unânimes em dizer que a certeza de que o marido
ia colocar-se nobremente ao lado do alienista consolou grandemente a
esposa do boticário; e notam com muita perspicácia, o imenso poder
moral de uma ilusão; porquanto, o boticário caminhou resolutamente
ao palácio do governo, não à casa do alienista. Ali chegando,
mostrou-se admirado de não ver o barbeiro, a quem ia apresentar os
seus protestos de adesão, não o tendo feito desde a véspera por
enfermo. E tossia com algum custo. Os altos funcionários que lhe
ouviam esta declaração, sabedores da intimidade do boticário com o
alienista, compreenderam toda a importância da adesão nova e trataram
a Crispim Soares com apurado carinho; afirmaram-lhe que o barbeiro
não tardava; Sua Senhoria tinha ido à Casa Verde, a negócio
importante, mas não tardava. Deram-lhe cadeira, refrescos,
elogios; disseram-lhe que a causa do ilustre Porfírio era a de todos
os patriotas; ao que o boticário ia repetindo que sim, que nunca
pensara outra coisa, que isso mesmo mandaria declarar a Sua
Majestade.
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