II
Molemente deitado aos pés da bela Kinnara ...




II
Molemente deitado aos pés da bela Kinnara, o jovem rei pedia-lhe uma cantiga.

 - Não dou outra cantiga que não seja esta: creio na alma sexual.

- Crês no absurdo, Kinnara.

- Vossa Majestade crê então na alma neutra?

- Outro absurdo, Kinnara. Não, não creio na alma neutra, nem na alma sexual.

 - Mas então em que é que Vossa Majestade  crê, se não crê em nenhuma delas?

 - Creio nos teus olhos Kinnara, que são o  sol e a luz do universo.

 - Mas cumpre-lhe escolher: - ou crer na alma neutra, e punir a academia viva, ou crer na alma sexual, e absolvê-la.

 - Que deliciosa que é a tua boca, minha doce Kinnara! Creio na tua boca: é a fonte da sabedoria.

 Kinnara levantou-se agitada. Assim como o rei era o homem feminino, ela era a mulher máscula, - um búfalo com penas de cisne. Era o búfalo que andava agora no aposento, mas daí a pouco foi o cisne que parou, e, inclinando o pescoço, pediu e obteve do rei, entre duas carícias, um decreto em que a doutrina da alma sexual  foi declarada legítima e ortodoxa, e a outra absurda e perversa. Nesse mesmo dia, foi o decreto mandado à academia triunfante, aos pagodes, mandarins, a todo o reino. A academia pôs luminárias; restabeleceu-se a paz pública.