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Naquele hotel da rua do Catete havia uma sociedade heteróclita mas
toda bem colocada. O proprietário orgulhava-se de ter o senador
Gomes com as suas sobrecasacas imundas, o ex-vice-presidente da
ex-missão do México, a primeira ex-grande atriz de revista, com o
seu cachorro, Mme de Santarém, divorciada pela quarta vez em
diversas religiões, o barão de Somerino do Instituto Histórico,
um negociante tuberculoso chegado das altitudes suíças com o fardo
enorme da esposa, o engenheiro Pereira mais a mulher, mais sete
filhos, mais a criada, a notável trágica Zulmira Simões em
conclusão da sua última peregrinação provincial em companhia do
elegante Raimundo de Souza, duas senhoras entre viúvas, solteiras
ou estritamente casadas, enfim, todo um mundo variado, mas que pagava
bem. De resto, o proprietário, como assegurava a ex-estrela de
revista, correspondia, isto é, servia com cuidado. Havia
eletricidade em todos os quartos, um aparelho de duchas no terraço de
cima e um cozinheiro chinês.
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