TAPOU A IDÉIA COM O CHAPÉU E SAIU...



Tapou a idéia com o chapéu e saiu. Dona Francisca ninava o corpo na cadeira de balanço louca para adivinhar.

As sete horas da manhã Cícero sem sair da cama encompridou o pescoço para examinar um automóvel deste tamanhinho parado no meio do quarto. Meio tonto ainda deu um pulo e foi ver o negócio de perto. Em cima do volante tinha um bilhete escrito à maquina: Meu querido Cícero. Dentro de meu cesto não cabia um automóvel grande como você pediu. Por isso deixo este que é a mesma cousa. Tenha sempre muito juízo e seja bonzinho para seus pais. (a) S. Nicolau.

Não vê. Cícero soltou dois ou três berros que levantaram no travesseiro os cabelos cortados de Dona Francisca. O major enfiou os pés nos chinelos e foi ver o que havia. Cícero pulava de ódio.

- Mas você não viu o bilhete, meu filhinho? Quer que eu leia para você?

- Eu não quero essa porcaria!

O major encabulou e se ofendeu mesmo. Dona Francisca veio também saber da gritaria.

- Mas então, Cícero! Não chore assim. Você chorando São Nicolau nunca mais traz um presente para você.

- Eu não preciso de nada!

O major já alimentava a sinistra idéia de passar um dos chinelos do pé para a mão. Dona Francisca pelo contrário ameigava a voz.

- Ah, meu benzinho, assim você deixa mamãe triste! Não chore mais.

O major foi se aproximando do filho assim como quem não quer.

- Deixe, Neco. Agradando se arranja tudo.

Do lado de lá da cama o Cícero desesperado da vida. Do lado de cá os carinhosos pais falando alternadamente. Sobre a cama (já com um farol espatifado) o pomo da discórdia.

- São Nicolau é velhinho. não pode carregar um cesto muito grande...

- E depois por grandão que fosse não podia caber um Ford de verdade dentro dele...

- É. E se cabesse...

- Se coubesse, Francisca!

- ... se coubesse São Nicolau não agüentaria com o peso...

- Está cansado, não tem mais força.

Cícero foi retendo a choradeira. Levantou a camisola para enxugar as lágrimas.

- Não fique assim descomposto!