ESTÁ BEM. LEVANTOU-SE. ESPREGUIÇOU-SE. DEU DOIS PASSOS...



Está bem. Levantou-se. Espreguiçou-se. Deu dois passos.

- Onde é que vai?

- Ver se o Zizinho está acordado.

Cornélia opôs-se. Deixasse o menino dormir, que diabo. Só entrava no serviço às onze horas. Tinha tempo. Depois a Aurora estava lavando a cozinha. Molhar os pés logo de manhã cedo faz mal. Quanto mais ele que vivia resfriado. Não fosse não.

- Vou sim. Tem de me fazer um serviço antes de sair.

Cornélia ficou apoiada na vassoura rezando baixinho. Prontinha para chorar. E ouvia as sacudidelas no trinco. E os berros do marido. Depois o silêncio sossegou-a. Recomeçou a varrer com mais fúria ainda.

Orozimbo entrou judiando do bigode. Deu um jeito no cós das calças e arrancou a vassoura das mãos da mulher.

- Que é isso, Orozimbo? Que é que há?

- Há que o Zizinho não dormiu hoje em casa e há que a senhora sabia e não me disse nada!

- Não sabia.

- Sabia! Conheço você!

- Não sabia. Depois ele está no quarto.

- A chave não está na fechadura!

- Então já saiu.

- E fechou a porta! Para quê, faça o favor de me dizer, para quê?

Então Cornélia puxou a cadeira e atirou-se nela chorando. Orozimbo andava, parava, tocava piano na mesa, andava, parava. Começava uma frase, não concluía, assoprava a ponta do nariz, começava outra, também não concluía. Parou diante da mulher.

- Não chore. Não adianta nada.

Depois disse:

- Grande cachorrinho!

E foi pôr o paletó.

Cornélia enxugou os olhos com as mãos. Enxugou as mãos na toalha da mesa. Ficou um momento com o olhar parado na Ceia de Cristo da parede. Muito cautelosamente caminhou até o quarto do Zizinho. Tirou a chave do bolso do avental. Abriu a porta. Começou a desfazer a cama depressa. Mas quando se virou deu com o Zizinho.

- Ah seu... Onde é que você andou até agora?

- Quem? Eu?

- Quem mais?

- Eu? Eu fui a Santos com uns amigos...

- Você está mentindo, Zizinho.

- Eu, mamãe? Não estou, mamãe. Juro. Vá jurar para seu pai.