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A UMA ATRIZ |
No seu benefício Branco cisne, que vogavas Das harmonias no mar, Pomba errante de outros climas, Vieste aos cerros pousar. Inda bem. Sob os palmares Na voz do condor, dos mares, Das serranias, dos céus... Sente o homem, — que é poeta. Sente o vate — que é profeta. Sente o profeta — que é Deus. Há alguma cousa de grande Deste mundo na amplidão, Como que a face do Eterno Palpita na criação... E o homem que olha o deserto, Diz consigo: "Deus stá perto Que a grandeza é o Criador." E, sob as paternas vistas, Larga rédeas às conquistas, Pede as asas ao condor. Inda bem. A glória é isto... É ser tudo... é ser qual Deus... Agitar as selvas d’alma Ao sopro dos lábios teus... Dizer ao peito — suspira! Dizer à mente — delira! A glória inda é mais: É ver Homens, que tremem — se tremes! Homens, que gemem — se gemes! Que morrem — se vais morrer! A glória é ter com o tridente Refreada a multidão, — Oceano de pensamentos Que tu agitas co’a mão! — Montanha feita de idéias, Que sustenta as epopéias Que é do gênio pedestal! — Harpa imensa feita de almas, Que rompe em hinos e palmas, Ao teu toque divinal. Mas esqueceste... Não basta "Chegar, olhar e vencer" Do gênio a maior grandeza O ser divino é sofrer. Diz!... Quando ouves a torrente Do entusiasmo na enchente Vir espumar-te lauréis; Nest’hora grande não sentes Longe os silvos das serpentes, Que tentam morder-te os pés? Inda é a glória — rainha Que jamais caminha só. Ai! Quem sobe ao Capitólio Vai precedido de pó. Porém tu zombas da inveja... Se à noite o raio lampeja Tu fazes dele um clarão! Pela tormenta embalada Ao som da orquestra arroubada Vais te perder n’amplidão. Recife, 27 de setembro de 1866 |
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