Batista estendeu-lhes a mão ...



Batista estendeu-lhes a mão.

Mas quando menos o esperava, viu-se agarrado pelos quatro braços vigorosos dos rapazes e levado pela sala fora e depois pela escada abaixo. O pobre moço gritava e protestava contra a perfídia e a ingratidão dos seus clientes, mas embalde! A voz de D. Angélica perdeu-se no meio do barulho; Teresa deitou a chorar; D. Maria benzeu-se; e no meio do tumulto apareceu na sala Tibúrcio; apertadíssimo numas calças de Carlos que lhe ficavam acima do tornozelo e numa jaqueta de Benjamim que lhe batia pelo meio das costas.

A figura fez rir ainda mais do que quando Tibúrcio apareceu molhado da cabeça até os pés.

- Que há de novo? Alguma nova travessura?

- Ah! Sr. Tibúrcio, exclamou D. Angélica; o senhor me há de embarcar estes dois rapazes que me põem doida; meta-os na presiganga!

- Pois não, D. Angélica! Mas que fizeram eles agora?

- Levaram para baixo o Sr. Batista.

- Que! pois tiveram também a audácia? Não admira! não me meteram no banho?

Tibúrcio sentiu uma espécie de satisfação em ver que não era a única vitima.

Pouco tempo depois subiu Batista, e, sem ousar aparecer na sala, pediu a D. Angélica que lhe desse alguma roupa que vestir.

Foi satisfeito.

D. Angélica mandou vir o bacalhau com que se castigavam os escravos e foi abaixo em pessoa.

- Andem! lá para cima! quando não... vai tudo a vergalho.

Os rapazes obedeceram.

D. Angélica não era só mulher de prometer; era mulher de cumprir.

A tarde caia; os rapazes adiaram a festa para os dias seguintes. Mudaram também de roupa e deixaram-se ficar na sala de jantar.

Batista voltou à sala um pouco envergonhado. Tibúrcio já estava mais calmo; D. Maria começou a rir e D. Angélica encaixou uma anedota a respeito de Sanches. As moças sentaram-se também.

- Gastaram todos os limões? perguntou D. Maria sem ver dois tabuleiros cheios.

- Todos, não, disse Ermelinda; ainda temos para amanhã.

- Isso, sim, disse Tibúrcio, isso é brincadeira que eu aprovo; o limão é delicado e diverte a gente.

- Diz muito bem, assentiu Batista. Mas o banho!

- É selvagem!

- É brutal!

- Deve acabar!

- E há de acabar!

- A civilização não comporta...

- Apoiado!

Os rapazes voltaram à sala. Tibúrcio dirigiu-se a D. Maria para dizer alguma coisa que o impedisse de olhar para os seus algozes; ao passo que Batista tirou o relógio, trouxe-o ao ouvido, deu-lhe corda, etc...., tudo para evitar o primeiro olhar dos filhos de D. Angélica.

Ninguém reparou que os rapazes traziam as mãos nos bolsos grandes dos paletós de brim.

Sentaram-se ambos a conversar. Ao principio nem Tibúrcio nem Batista lhes dirigiu a palavra; mas, convindo evitar o ridículo do amuo depois de banho, pouco e pouco foram conversando com eles e restabeleceu-se a confiança.

Não tardou porém que Carlos pregasse em Tibúrcio um rabo de papel, e Benjamim outro em Batista. O de Batista não foi visto logo pelas outras pessoas. Mas como Tibúrcio estava de costas para o grupo das moças, viram estas logo o apêndice posto por Carlos e riram alegremente. Tibúrcio desconfiou. Olhou para Carlos; este ficou sério.

- De que se riem as moças? perguntou Tibúrcio.

- Não sei, respondeu Carlos; deixe ver. Ah! é uma mancha de cal no seu paletó, deixe limpá-la.

Tibúrcio consentiu de boa-fé; e Carlos fingindo que limpava o paletó, quebrou-lhe um ovo nas costas.

Sentiu Tibúrcio que o rapaz não o limpava, antes o sujava, a gema entornou-se parte no chão, D. Angélica correra para Carlos, este correu pela sala, levantou-se Batista para intervir, mas arrastando também um rabo de papel; Benjamim aproveitou a ocasião e quebrou um ovo nas costas de Batista.