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Dentro de cinco dias, o alienista meteu na Casa Verde cerca de
cinqüenta aclamadores do novo governo. O povo indignou-se. O
governo, atarantado, não sabia reagir. João Pina, outro
barbeiro, dizia abertamente nas ruas, que o Porfírio estava
"vendido ao ouro de Simão Bacamarte", frase que congregou em torno
de João Pina a gente mais resoluta da vila. Porfírio, vendo o
antigo rival da navalha à testa da insurreição, compreendeu que a
sua perda era irremediável, se não desse um grande golpe; expediu
dois decretos, um abolindo a Casa Verde, outro desterrando o
alienista. João Pina mostrou claramente, com grandes frases, que o
ato de Porfírio era um simples aparato, um engodo, em que o povo
não devia crer. Duas horas depois caía Porfírio! ignominiosamente
e João Pina assumia a difícil tarefa do governo. Como achasse nas
gavetas as minutas da proclamação, da exposição ao vice-rei e de
outros atos inaugurais do governo anterior, deu-se pressa em os fazer
copiar e expedir; acrescentam os cronistas, e aliás subentende-se,
que ele lhes mudou os nomes, e onde o outro barbeiro falara de uma
Câmara corrupta, falou este de "um intruso eivado das más doutrinas
francesas e contrário aos sacrossantos interesses de Sua
Majestade", etc.
Nisto entrou na vila uma força mandada pelo vice-rei, e restabeleceu
a ordem. O alienista exigiu desde logo a entrega do barbeiro
Porfírio e bem assim a de uns cinqüenta e tantos indivíduos, que
declarou mentecaptos; e não só lhe deram esses como afiançaram
entregar-lhe mais dezenove sequazes do barbeiro, que convalesciam das
feridas apanhadas na primeira rebelião.
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