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Este ponto da crise de Itaguaí marca também o grau máximo da
influência de Simão Bacamarte. Tudo quanto quis, deu-se-lhe; e
uma das mais vivas provas do poder do ilustre médico achamo-la na
prontidão com que os vereadores, restituídos a seus lugares,
consentiram em que Sebastião Freitas também fosse recolhido ao
hospício. O alienista, sabendo da extraordinária inconsistência
das opiniões desse vereador, entendeu que era um caso patológico, e
pediu-o. A mesma coisa aconteceu ao boticário. O alienista, desde
que lhe falaram da momentânea adesão de Crispim Soares à rebelião
dos Canjicas, comparou-a à aprovação que sempre recebera dele,
ainda na véspera, e mandou capturá-lo. Crispim Soares não negou
o fato, mas explicou-o dizendo que cedera a um movimento de terror,
ao ver a rebelião triunfante, e deu como prova a ausência de nenhum
outro ato seu, acrescentando que voltara logo à cama, doente.
Simão Bacamarte não o contrariou; disse, porém, aos
circunstantes que o terror também é pai da loucura, e que o caso de
Crispim Soares lhe parecia dos mais caracterizados.
Mas a prova mais evidente da influência de Simão Bacamarte foi a
docilidade com que a Câmara lhe entregou o próprio presidente. Este
digno magistrado tinha declarado, em plena sessão, que não se
contentava, para lavá-la da afronta dos Canjicas, com menos de
trinta almudes de sangue; palavra que chegou aos ouvidos do alienista
por boca do secretário da Câmara, entusiasmado de tamanha energia.
Simão Bacamarte começou por meter o secretário na Casa Verde, e
foi dali à Câmara, à qual declarou que o presidente estava
padecendo da "demência dos touros", um gênero que ele pretendia
estudar, com grande vantagem para os povos. A Câmara a princípio
hesitou, mas acabou cedendo.
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