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Durante a noite seguinte, meditou Oliveira acerca do negócio de Magalhães. Tinha amigos importantes ... |
Durante a noite seguinte, meditou Oliveira acerca do negócio de Magalhães. Tinha amigos importantes, os mesmos que forcejavam por lhe abrir carreira política. Oliveira pensou neles como os mais próprios para levar a cabo a obra de seus desejos. O grande caso para ele era empregar Magalhães, em cargo tal que despicasse da prepotência ministerial. O substantivo prepotência era a exata expressão de Oliveira. Não lhe ocultaram os amigos que o caso não era fácil; mas prometeram que a dificuldade seria vencida. Não se dirigiram ao Ministro da Guerra, mas a outro; Oliveira pôs em campo o recurso feminino. Duas senhoras de seu conhecimento foram em pessoa falar ao ministro, em favor do feliz candidato. Não negou o digno membro do poder executivo a dificuldade de criar um lugar para dar ao pretendente. Seria cometer a injustiça de tirar o pão a empregados úteis ao pais. Instavam, porém, os padrinhos, audiências e cartas, pedidos de toda sorte; nada ficou por empregar em favor de Magalhães. Depois de cinco dias de lutas e solicitações diárias, declarou o ministro que poderia dar um bom emprego a Magalhães na Alfândega de Corumbá. Já era boa vontade da parte do ministro, mas os protetores de Magalhães recusaram a graça. - O que se deseja de V. Excía., disse um deles, é que o nosso afilhado seja empregado aqui mesmo na Corte. Vai nisso uma questão de honra, e uma questão de comodidade. Tinha boa vontade o ministro, e entrou a cogitar no meio de acomodar o pretendente. Havia em uma das repartições a seu cargo um empregado que durante o ano faltava muitas vezes ao ponto, e na última peleja eleitoral votara contra o ministro. Caiu-lhe uma demissão em casa, e para evitar empenhos mais fortes, no mesmo dia em que apareceu a demissão do empregado vadio, apareceu a nomeação de Magalhães. Foi o próprio Oliveira que levou a Magalhães o desejado decreto. - Dá-me cá um abraço, disse ele, e reza aí um mea culpa. Venci o destino. Estás nomeado. - Quê! será possível? - Aqui tens o decreto! Magalhães caiu nos braços de Oliveira. A gratidão de quem recebe um beneficio é sempre menor que o prazer daquele que o faz. Magalhães exprimia todo seu reconhecimento pela dedicação e perseverança de Oliveira; mas a alegria de Oliveira não tinha limites. A explicação desta diferença está talvez neste fundo de egoísmo que há em todos nós. Em todo caso, a amizade dos dois ex-colegas ganhou com isso maior solidez. |
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