Tinha os pés nus e sujos e andando arfava como um duende aterrado....



Prevendo uma violência da encantadora Flora e mais do que tudo cheio de curiosidade, Pedro ergueu-se rápido e tomou abrir a porta.

- Vá, entre.

A pequena hesitou como se fosse atirar-se a um abismo, fechou os olhos, arregalou-os muito, esticou as mãos amarelas, andou um pouco. Tinha os pés nus e sujos e andando arfava como um duende aterrado. Agarrou a bacia, sobraçou-a. Era atroz, assustadoramente atroz.

- Vem cá. Como se chama você?

- Fala, menina, não tremas. Este senhor não te faz mal. É isso. Vê homem, começa a tremer! Ó Maria, como te chamas? Conta como foi, rapariga, vem cá...

A pequena amarela olhou-os um instante mais, convulsionou-se num soluço que lhe esbugalhava o olhar e deitou a correr pelo corredor. Houve um silêncio, logo interrompido pelo riso de Flora Berta.

- Está há muito tempo contigo?

- Três meses. Foi o pai que a colocou aqui. Tem doze anos e já com aqueles seios...

- Mas está doente, filha. Nunca vi na minha vida uma criatura tão amarela.

Flora voltou-se no leito. Estava linda com a sua carne de leite e rosa.

- Não. Aquilo foi de repente. Há quatro meses um carroceiro, amigo do pai, agarrou-a de noite, à força. No outro dia foram encontrá-la assim, a soluçar, não podendo olhar os homens sem tremer, sem fugir. Nem mesmo o pai. E amarela, toda amarela, filho. O médico disse que foi de horror...

No dia seguinte os hóspedes alegres da casa de Flora Berta verificaram com mágoa que Pedro de Alencar, aquele rapaz tão distinto e com uma posição invejável, deixava de aparecer.