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III "Pernambuco! Um dia eu vi-te ... |
III "Pernambuco! Um dia eu vi-te Dormindo imenso ao luar, Com os olhos quase cerrados, Com os lábios — quase a falar... Do braço o clarim suspenso, — O punho no sabre extenso De pedra — recife imenso, Que rasga o peito do mar... E eu disse: Silêncio, ventos! Cala a boca, furacão! No sonho daquele sono Perpassa a Revolução! Este olhar que não se move Stá fito em — Oitenta e nove — Lê Homero — escuta Jove... — Robespierre — Dantão. Naquele crânio entra em ondas O verbo de Mirabeau... Pernambuco sonha a escada, Que também sonhou Jacó... Cisma a República alçada, E pega os copos da espada, Enquanto em su’alma brada: "Somos irmãos, Vergniaud." Então repeti ao povo: — Desperta do sono teu! Sansão — derroca as colunas! Quebra os ferros — Prometeu! Vesúvio curvo — não pares, Ígnea coma solta aos ares, Em lavas inunda os mares, Mergulha o gládio no céu. República!... Vôo ousado Do homem feito condor! Raio de aurora inda oculta, Que beija a fronte ao Tabor! Deus! Por que enquanto que o monte Bebe a luz desse horizonte, Deixas vagar tanta fronte, No vale envolto em negror?!... Inda me lembro... Era, há pouco, A luta!... Horror!... Confusão!... A morte voa rugindo Da garganta do canhão!... O bravo a fileira cerra!... Em sangue ensopa-se a terra!... E o fumo — o corvo da guerra — Com as asas cobre a amplidão... Cheguei!... Como nuvens tontas, Ao bater no monte — além, Topam, rasgam-se, recuam... Tais a meus pés vi também Hostes mil na luta inglória... ... Da pirâmide da glória São degraus... Marcha a vitória, Porque este braço a sustém. Foi uma luta de bravos, Como a luta do jaguar. De sangue enrubesce a terra, — De fogo enrubesce o ar!... ... Oh!... mas quem faz que eu não vença? — O acaso... — avalanche imensa, Da mão do Eterno suspensa, Que a idéia esmaga ao tombar!... Não importa! A liberdade É como a hidra, o Anteu. Se no chão rola sem forças, Mais forte do chão se ergueu... São os seus ossos sangrentos Gládios terríveis, sedentos... E da cinza solta aos ventos Mais um Graco apareceu!... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Dorme, cidade maldita! Teu sono de escravidão! Porém no vasto sacrário Do templo do coração, Ateia o lume das lampas, Talvez que um dia dos pampas Eu surgindo quebre as campas, Onde te colam no chão. Adeus! Vou por ti maldito Vagar nos ermos pauis. Tu ficas morta, na sombra, Sem vida, sem fé, sem luz!... Mas quando o povo acordado Te erguer do tredo valado, Virá livre, grande, ousado, De pranto banhar-me a cruz!... |
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