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- Príncipe Encantador, havia as flores...
- Sim, as flores, amei as flores, tateando na sombra do mal. As
flores são as caçoulas dos perfumes naturais. A natureza condensa
nelas o olor das suas paixões, a alma dos seus desejos, as
recordações de tonturas, de frenesis ou de grandes repousos
celestes. Não sorrias. O que eu sinto não o dizem palavras. É
preciso descobrir frases prismáticas como certos cristais e vê-las à
luz do sentimento, que percebe para além das coisas visíveis. Os
deuses gostavam de perfumes; o perfume exorta e exalta. Por que
lisonjear os deuses com perfumes, se não tivéssemos a idéia do
sacrifício, do grande pecado da natureza que ele representa? Há
flores cujo perfume é cínico, outras cujo cheiro é banal, outras
cujo olor se celestiza, outras ainda que nos dão desesperos de carne.
É possível ter à lapela uma gardênia sem sentir cefalalgias horas
depois? É possível cheirar certas rosas sem odiá-las?
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